O Tapete voador e o limite da engenhosidade
De tempos em tempos ocorrem
circunstâncias que nos fazem pensar sobre os limites da engenhosidade humana e
o que construímos sobre uma nova tecnologia descoberta.
Qualquer fato cotidiano pode
desencadear os questionamentos que podem levar ao cabo o desenvolvimento de uma
nova tecnologia.
Onde estou digitando este texto é
um notável exemplo. Estou digitando em um computador. Mas antes dele
utilizávamos a Máquina de Escrever Mecânica. A “Máquina de Escrever Mecânica”
surgiu como uma evolução – termo característico para designar um aumento de
engenhosidade – da tipografia tradicional. Através de uma serie infindável de
mecanismos, hastes, rebites e todo o tipo de conexões físicas e mecânicas. Tudo
encaixado de forma a fazer movimentos pré-determinados e precisos. Ao abrir um
equipamento destes, que ainda se encontra (Sec XXI) em algum museu, pode-se ver
claramente a “engenhosidade” no seu estado mais puro.
A Máquina de escrever eletrônica
ainda surgiu como um último manifesto de uma tecnologia ultrapassada. Foi o
ápice do fim, se é que se pode dizer assim.
Um dia, alguém, sem cometer
injustiças, mas creio um dos sócios da Atari, uma das primeiras produtoras de
games da década de 1960, pressionou uma tecla em um rústico teclado e a imagem
correspondente foi mostrada em uma tela de TV. Bingo! Uma nova tecnologia
surgia e viria a varrer do mapa as agora antigas e obsoletas máquinas.
Assim é também com a indústria da
aviação. Primeiro aviões com hélices, com limitações de toda a espécie. Teto de
voo, alcance, velocidade. Depois com o uso das turbinas, agregado tecnológico
novo, barreiras foram rompidas. Mas no conjunto, o que impera ainda é a
engenhosidade.
Da primeira tentativa de alçar
voo e a descoberta que a diferença de pressão faz o avião se sustentar no ar –
que foi o salto tecnológico inicial – até a consolidação da aviação civil, o
que se sucedeu mais um arranjo de tecnologia e muita engenhosidade.
Mas será que sabemos identificar
o momento em que só mais engenhosidade não resolve¿
Um exemplo de detecção de um
ponto no qual a engenhosidade chegou ao seu limite parece ser a indústria
espacial. Esta indústria tem buscado alternativas ao uso de foguetes
impulsionados por combustão para conseguir vencer as barreiras e forças de
atração da terra.
O desenvolvimento de tecnologia e
acréscimo de engenhosidade na produção dos foguetes foi enorme, mas a conclusão
de que “outra” tecnologia é necessária para este fim foi inevitável.
Mas qual tecnologia¿ Não surgiu
ainda. O que vemos é o vazio que a falta de um salto tecnológico é capaz de
produzir.
Reconhecesse aqui o limite da
engenhosidade.
Antes de surgir a fita magnética
para gravação a indústria se baseava nos discos de vinil. Ao mesmo tempo a
indústria automobilística também de desenvolvia de forma avassaladora. Houve
modelos de automóvel equipados com leitores (tocadores) de discos de vinil.
Mesmo toda a engenhosidade humana não foi suficiente para fazer este conjunto
funcionar corretamente.
Mas com o surgimento de “outra”
tecnologia, o problema foi solucionado.
Sempre a ordem segue a mesma:
Necessidade. Tecnologia. Engenhosidade. Nova Tecnologia. Engenhosidade. E assim
por diante.
Temos vários campos onde mesmo
tendo aplicado toda a engenhosidade humana, não conseguimos satisfazer
adequadamente a necessidade com a tecnologia atual.
Um deles, falamos agora pouco: A
aviação Comercial.
Entrar em um cilindro de metal,
com um milhão de rebites, acelerar loucamente em uma pista de rolamento, até
causar uma diferença de pressão o suficiente para sermos sugados para cima,
propulsados por motores a jato, consumindo milhares de litros de combustível
fóssil em uma explosão controlada. Sem um plano B eficiente... Não parece
insano¿
A engenhosidade tratou de criar
uma malha de protocolos e códigos técnicos a fim de garantir que este arranjo
funcione em conjunto. Mas eles são também uma espécie de remédio ou de
alucinógeno que faz com que nós humanos da primeira metade do Século XXI,
achemos seguro nos deslocar assim.
É muito compreensível que nem
notemos estas questões e mesmo não se aceite com facilidade, pois – é o temos.
Ou usamos estes meios, ou regredimos. E sabemos que o homem sempre vai em
frente. Sempre.
Podemos comprovar isso olhando
400 anos atrás, séculos XVI - XVII e vamos ver as viagens entre o velho
continente e o novo, realizadas em embarcações à vela, de madeira, em uma época
que não existia refrigeração, comunicação por rádio, GPS, antibióticos, nada.
As pessoas simplesmente embarcavam com destino ao Novo Mundo, em viagens que
poderiam demorar meses, ou mesmo não chegar. Algumas chegavam até com metade
dos passageiros.
Hoje ao analisarmos estas
circunstâncias não podemos ter outra reação que não o espanto completo. Porém
não havia outra forma. A situação exigia uma solução. A decisão era ir desta
forma, ou não ir de jeito nenhum.
Possivelmente, a reação que temos
hoje, será a mesma que as pessoas em um futuro de poucos séculos poderão sentir
em relação ao que - e como - fazemos hoje.
Podemos imaginar um habitante
humano deste planeta de um futuro próximo se perguntando como nos séculos XX e
XXI e antes, claro, as pessoas morriam porque o coração parava de bater.
Dito assim parece muito estranho.
Mas analisemos um pouco esta questão.
Quando o coração para de bater no
seu ritmo normal temos o conhecido Ataque Cardíaco. Se a pessoa não for
reanimada em um período de poucos minutos é decretada a morte.
Qual a causa da morte: Parada
Cardíaca¿
Sim e não. A verdadeira e
derradeira causa da morte será por insuficiência de irrigação do cérebro por um
período suficientemente grande para que este não possa ser “religado”.
Enquanto o cérebro não morrer, há
vida. Enquanto as células cerebrais estiverem vivas todas as funções poderão
ser retomadas.
Em uma cirurgia cardíaca é
utilizado um maquinário para manter a circulação sanguínea que simula um
coração.
Mas existem cirurgias cardíacas
que podem ser realizadas sem a utilização de um coração artificial, ou sem um
maquinário que simule as funções do órgão.
Nestas cirurgias são utilizadas
técnicas de resfriamento, que permitem que o cérebro possa ficar um longo tempo
sem oxigênio, e que as células permaneçam vivas.
Já vimos e ouvimos diversos
acidentes em lagos congelados, onde a vítima se afoga e somente é resgatada
muitos minutos depois, 10, 20 ou 30 minutos sem respirar. Consequentemente sem
enviar o precioso oxigênio para as células cerebrais. E mesmo assim, depois de
resgatados estes indivíduos recuperam a consciência e seguem uma vida normal.
A chave é manter as células – o
cérebro – vivo ou em condições de ser “religado”.
A cidade de Filadélfia nos USA
detém os melhores índices mundiais de salvamento de pessoas diante de um ataque
cardíaco. O motivo é a rede de ambulâncias e posições de socorro que tem o
objetivo e a meta de em 5 minutos levar o desfibrilador até a vítima, seja qual
for o ponto da cidade em que for a ocorrência.
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