Thursday, November 20, 2014

O Tapete voador e o limite da engenhosidade

O Tapete voador e o limite da engenhosidade

De tempos em tempos ocorrem circunstâncias que nos fazem pensar sobre os limites da engenhosidade humana e o que construímos sobre uma nova tecnologia descoberta.
Qualquer fato cotidiano pode desencadear os questionamentos que podem levar ao cabo o desenvolvimento de uma nova tecnologia.
Onde estou digitando este texto é um notável exemplo. Estou digitando em um computador. Mas antes dele utilizávamos a Máquina de Escrever Mecânica. A “Máquina de Escrever Mecânica” surgiu como uma evolução – termo característico para designar um aumento de engenhosidade – da tipografia tradicional. Através de uma serie infindável de mecanismos, hastes, rebites e todo o tipo de conexões físicas e mecânicas. Tudo encaixado de forma a fazer movimentos pré-determinados e precisos. Ao abrir um equipamento destes, que ainda se encontra (Sec XXI) em algum museu, pode-se ver claramente a “engenhosidade” no seu estado mais puro.
A Máquina de escrever eletrônica ainda surgiu como um último manifesto de uma tecnologia ultrapassada. Foi o ápice do fim, se é que se pode dizer assim.
Um dia, alguém, sem cometer injustiças, mas creio um dos sócios da Atari, uma das primeiras produtoras de games da década de 1960, pressionou uma tecla em um rústico teclado e a imagem correspondente foi mostrada em uma tela de TV. Bingo! Uma nova tecnologia surgia e viria a varrer do mapa as agora antigas e obsoletas máquinas.
Assim é também com a indústria da aviação. Primeiro aviões com hélices, com limitações de toda a espécie. Teto de voo, alcance, velocidade. Depois com o uso das turbinas, agregado tecnológico novo, barreiras foram rompidas. Mas no conjunto, o que impera ainda é a engenhosidade.
Da primeira tentativa de alçar voo e a descoberta que a diferença de pressão faz o avião se sustentar no ar – que foi o salto tecnológico inicial – até a consolidação da aviação civil, o que se sucedeu mais um arranjo de tecnologia e muita engenhosidade.
Mas será que sabemos identificar o momento em que só mais engenhosidade não resolve¿
Um exemplo de detecção de um ponto no qual a engenhosidade chegou ao seu limite parece ser a indústria espacial. Esta indústria tem buscado alternativas ao uso de foguetes impulsionados por combustão para conseguir vencer as barreiras e forças de atração da terra.
O desenvolvimento de tecnologia e acréscimo de engenhosidade na produção dos foguetes foi enorme, mas a conclusão de que “outra” tecnologia é necessária para este fim foi inevitável.
Mas qual tecnologia¿ Não surgiu ainda. O que vemos é o vazio que a falta de um salto tecnológico é capaz de produzir.
Reconhecesse aqui o limite da engenhosidade.
Antes de surgir a fita magnética para gravação a indústria se baseava nos discos de vinil. Ao mesmo tempo a indústria automobilística também de desenvolvia de forma avassaladora. Houve modelos de automóvel equipados com leitores (tocadores) de discos de vinil. Mesmo toda a engenhosidade humana não foi suficiente para fazer este conjunto funcionar corretamente.
Mas com o surgimento de “outra” tecnologia, o problema foi solucionado.
Sempre a ordem segue a mesma: Necessidade. Tecnologia. Engenhosidade. Nova Tecnologia. Engenhosidade. E assim por diante.
Temos vários campos onde mesmo tendo aplicado toda a engenhosidade humana, não conseguimos satisfazer adequadamente a necessidade com a tecnologia atual.
Um deles, falamos agora pouco: A aviação Comercial.
Entrar em um cilindro de metal, com um milhão de rebites, acelerar loucamente em uma pista de rolamento, até causar uma diferença de pressão o suficiente para sermos sugados para cima, propulsados por motores a jato, consumindo milhares de litros de combustível fóssil em uma explosão controlada. Sem um plano B eficiente... Não parece insano¿
A engenhosidade tratou de criar uma malha de protocolos e códigos técnicos a fim de garantir que este arranjo funcione em conjunto. Mas eles são também uma espécie de remédio ou de alucinógeno que faz com que nós humanos da primeira metade do Século XXI, achemos seguro nos deslocar assim.
É muito compreensível que nem notemos estas questões e mesmo não se aceite com facilidade, pois – é o temos. Ou usamos estes meios, ou regredimos. E sabemos que o homem sempre vai em frente. Sempre.
Podemos comprovar isso olhando 400 anos atrás, séculos XVI - XVII e vamos ver as viagens entre o velho continente e o novo, realizadas em embarcações à vela, de madeira, em uma época que não existia refrigeração, comunicação por rádio, GPS, antibióticos, nada. As pessoas simplesmente embarcavam com destino ao Novo Mundo, em viagens que poderiam demorar meses, ou mesmo não chegar. Algumas chegavam até com metade dos passageiros.
Hoje ao analisarmos estas circunstâncias não podemos ter outra reação que não o espanto completo. Porém não havia outra forma. A situação exigia uma solução. A decisão era ir desta forma, ou não ir de jeito nenhum.
Possivelmente, a reação que temos hoje, será a mesma que as pessoas em um futuro de poucos séculos poderão sentir em relação ao que - e como - fazemos hoje.
Podemos imaginar um habitante humano deste planeta de um futuro próximo se perguntando como nos séculos XX e XXI e antes, claro, as pessoas morriam porque o coração parava de bater.
Dito assim parece muito estranho. Mas analisemos um pouco esta questão.
Quando o coração para de bater no seu ritmo normal temos o conhecido Ataque Cardíaco. Se a pessoa não for reanimada em um período de poucos minutos é decretada a morte.
Qual a causa da morte: Parada Cardíaca¿
Sim e não. A verdadeira e derradeira causa da morte será por insuficiência de irrigação do cérebro por um período suficientemente grande para que este não possa ser “religado”.
Enquanto o cérebro não morrer, há vida. Enquanto as células cerebrais estiverem vivas todas as funções poderão ser retomadas.
Em uma cirurgia cardíaca é utilizado um maquinário para manter a circulação sanguínea que simula um coração.
Mas existem cirurgias cardíacas que podem ser realizadas sem a utilização de um coração artificial, ou sem um maquinário que simule as funções do órgão.
Nestas cirurgias são utilizadas técnicas de resfriamento, que permitem que o cérebro possa ficar um longo tempo sem oxigênio, e que as células permaneçam vivas.
Já vimos e ouvimos diversos acidentes em lagos congelados, onde a vítima se afoga e somente é resgatada muitos minutos depois, 10, 20 ou 30 minutos sem respirar. Consequentemente sem enviar o precioso oxigênio para as células cerebrais. E mesmo assim, depois de resgatados estes indivíduos recuperam a consciência e seguem uma vida normal.
A chave é manter as células – o cérebro – vivo ou em condições de ser “religado”.
A cidade de Filadélfia nos USA detém os melhores índices mundiais de salvamento de pessoas diante de um ataque cardíaco. O motivo é a rede de ambulâncias e posições de socorro que tem o objetivo e a meta de em 5 minutos levar o desfibrilador até a vítima, seja qual for o ponto da cidade em que for a ocorrência.

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