Thursday, May 19, 2022

Um momento com Airton

Era madrugada, dia 1º de maio de 1994. Uma festa junto com vários casais de amigos e colegas de empresa em uma casa noturna de Porto Alegre.


Três horas da manhã nos despedimos e entre um abraço e outro nós comentávamos sobre a corrida de fórmula 1 da manhã seguinte. A preocupação maior era se conseguiríamos acordar antes do início da corrida. Afinal estávamos todos muito cansados. Cancelamos o churrasco do dia seguinte, o qual sempre fazíamos para acompanhar as corridas do Airton.


Amanheceu. Toca o telefone na minha casa. Ainda sonolento levanto e atendo a ligação. Era meu amigo Nakato.


-- Cara! Tenho uma notícia ruim. Nosso amigo Guilherme morreu esta madrugada.


Fiquei em choque. Guilherme e sua esposa estavam na festa conosco há poucas horas. Divertindo-se, rindo, dançando!


-- Mas como isso aconteceu? Perguntei.


-- Sofreu um acidente na Av Azenha. Perdeu o controle do carro e bateu no muro de uma obra. Um vergalhão entrou pelo para-brisa dianteiro e atingiu sua cabeça, matando ele na hora.


Chocado, recebi as informações sobre o funeral e desliguei o telefone.


Ainda tonto com a notícia, sentei numa poltrona na sala de TV. Totalmente aturdido liguei de forma instintiva o aparelho.


POOONG!! A imagem estampada diante dos meus olhos era de Senna ainda preso dentro do seu carro e Galvão Bueno com a voz embargada, antevendo a tragédia, transmitindo a situação.


Não podia acreditar!!


Havia acordado com a notícia pavorosa da morte de um colega de trabalho, e agora isso. Dois fatos com incrível semelhança!


Como provavelmente TODOS os brasileiros, amantes da F1 e fãs de Senna, não consegui desgrudar da TV até a confirmação de sua morte.


Um sentimento de orfandade me tomou profundamente. Os domingos nunca mais seriam os mesmos. Já sabia disso. Porém a situação mais estranha ocorreu horas depois no velório do Guilherme, colega de trabalho, o qual eu via e conversava com alguma frequência.


Sentia-me muito mais, velando o meu outro amigo: Airton Senna. 


O sentimento era mais forte que eu. Era esse amigo que realmente me deixava naquele momento com o peito apertado.


Airton era muito próximo. Estava em minha casa quase todo o domingo. Era minha projeção de sucesso. Referência de Vitória.


Senti vergonha do meu sentimento. Senti como que traindo meu colega que ali jazia na minha frente. 


Demorei algum tempo para entender o que se passou, imaginando o vazio que Senna deixaria na minha vida. Como de fato deixou. Por isso hoje respeito demais a memória deste gênio inspirador. Que mesmo não estando mais aqui conosco, o seu espírito forte ainda nos fascina e motiva a ir além, ultrapassando todos os limites.



(*) Os fatos descritos acima são verídicos. Os nomes “Nakato” e “Guilherme” são fictícios.




Wednesday, May 18, 2022

Control Z Delete

 Coisa difícil datilografar sem errar.


Um erro custava caro. 


O preço era tentar apagar sem rasgar o papel. Usando com carbono a tarefa se tornava mais difícil ainda. Pois o erro se dava em 2 ou mais cópias. Ainda, muitas vezes se apagava com sucesso, mas o passo seguinte seria o de reposicionar a folha no exato local onde os tipos atingiam o papel, mantendo a altura e posição do texto.


Daí então surgiu o editor de texto e tudo mudou. Pode-se errar a vontade. (como acabei de errar agora e você nem viu).


Pode-se inclusive desfazer totalmente um erro. Genial. Agora dá para experimentar sem o dissabor de cagar tudo. Basta um CRTL+Z! Maravilha! Blocos inteiros de qualquer coisa desfeitos e voltando ao status quo ante!


Isso é que é liberdade criativa! Um super papel higiênico que não deixa marcas. 


Mas o quanto isso tudo transformou as pessoas e o quanto disso vazou do mundo virtual para a nossa realidade física. O dia a dia, aquele, fora das telas?


É claro que as pessoas se acostumam com o que é fácil. Somos treinados para agir sempre pelo caminho mais fácil. Isso nos trouxe até aqui e certamente tem a ver com genes muito antigos. Não poderia ser diferente que abraçasse-mos tudo de bom que nos é oferecido e passemos a agir reproduzindo esse comportamento.


Será que esse novo costume, este novo agir, tem nos causado alguns problemas também? A falta de cautela, sabendo que uma ação pode ser desfeita, pode nos levar a realizar ações perigosas ou displicentes?

O que isso pode nos estar causando nos dias de hoje?


Dia desses um amigo me disse que a filha dele - já adulta - estraga os aparelhos de TV em 6 meses. E acrescentou que isso era porque “Apertava tudo que era botão que via”. 


A Fábrica de Cretinos Digitais. Este é o título do último livro do neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, em que apresenta, com dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais estão afetando seriamente — e para o mal — o desenvolvimento neural de crianças e jovens. 


Porém os motivos apresentados pelo Dr Desmurget não parecem explicar como ou melhor, por quê isto está se dando. Vamos a algumas explicações dele:  


Dr Desmurget - Entrevista à BBC


BBC News Mundo: E o que está causando essa diminuição no QI?

Desmurget: Infelizmente, ainda não é possível determinar o papel específico de cada fator, incluindo por exemplo a poluição (especialmente a exposição precoce a pesticidas) ou a exposição a telas. O que sabemos com certeza é que, mesmo que o tempo de tela de uma criança não seja o único culpado, isso tem um efeito significativo em seu QI. Vários estudos têm mostrado que quando o uso de televisão ou videogame aumenta, o QI e o desenvolvimento cognitivo diminuem.

Os principais alicerces da nossa inteligência são afetados: linguagem, concentração, memória, cultura (definida como um corpo de conhecimento que nos ajuda a organizar e compreender o mundo). Em última análise, esses impactos levam a uma queda significativa no desempenho acadêmico.

 

BBC News Mundo: E por que o uso de dispositivos digitais causa tudo isso?

Desmurget: As causas também são claramente identificadas: diminuição da qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional; diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, arte, leitura, etc.); perturbação do sono, que é quantitativamente reduzida e qualitativamente degradada; superestimulação da atenção, levando a distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; subestimulação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial; e o sedentarismo excessivo que, além do desenvolvimento corporal, influencia a maturação cerebral.

 

BBC News Mundo: Que dano exatamente as telas causam ao sistema neurológico?

Desmurget: O cérebro não é um órgão "estável". Suas características 'finais' dependem da nossa experiência. O mundo em que vivemos, os desafios que enfrentamos, modificam tanto a estrutura quanto o seu funcionamento, e algumas regiões do cérebro se especializam, algumas redes são criadas e fortalecidas, outras se perdem, algumas se tornam mais densas e outras mais finas.

Observou-se que o tempo gasto em frente a uma tela para fins recreativos atrasa a maturação anatômica e funcional do cérebro em várias redes cognitivas relacionadas à linguagem e à atenção.

Deve-se ressaltar que nem todas as atividades alimentam a construção do cérebro com a mesma eficiência.

 

BBC News Mundo: O que isso quer dizer?

Desmurget: Atividades relacionadas à escola, trabalho intelectual, leitura, música, arte, esportes… todas têm um poder de estruturação e nutrição muito maior para o cérebro do que as telas.

Mas nada dura para sempre. O potencial para a plasticidade cerebral é extremo durante a infância e adolescência. Depois, ele começa a desaparecer. Ele não vai embora, mas se torna muito menos eficiente.

O cérebro pode ser comparado a uma massa de modelar. No início, é úmida e fácil de esculpir. Mas, com o tempo, fica mais seca e muito mais difícil de modelar. O problema com as telas é que elas alteram o desenvolvimento do cérebro de nossos filhos e o empobrecem.

 

BBC News Mundo: Todas as telas são igualmente prejudiciais?

Desmurget: Ninguém diz que a "revolução digital" é ruim e deve ser interrompida. Eu próprio passo boa parte do meu dia de trabalho com ferramentas digitais. E quando minha filha entrou na escola primária, comecei a ensiná-la a usar alguns softwares de escritório e a pesquisar informações na internet.

 

Os alunos devem aprender habilidades e ferramentas básicas de informática? Claro. Da mesma forma, pode a tecnologia digital ser uma ferramenta relevante no arsenal pedagógico dos professores? Claro, se faz parte de um projeto educacional estruturado e se o uso de um determinado software promove efetivamente a transmissão do conhecimento.

Porém, quando uma tela é colocada nas mãos de uma criança ou adolescente, quase sempre prevalecem os usos recreativos mais empobrecedores. Isso inclui, em ordem de importância: televisão, que continua sendo a tela número um de todas as idades (filmes, séries, clipes, etc.); depois os videogames (principalmente de ação e violentos) e, finalmente, na adolescência, um frenesi de autoexposição inútil nas redes sociais.

 

BBC News Mundo: Quanto tempo as crianças e os jovens costumam passar em frente às telas?

Desmurget: Em média, quase três horas por dia para crianças de 2 anos, cerca de cinco horas para crianças de 8 anos e mais de sete horas para adolescentes.

Isso significa que antes de completar 18 anos, nossos filhos terão passado o equivalente a 30 anos letivos em frente às telas ou, se preferir, 16 anos trabalhando em tempo integral!

É simplesmente insano e irresponsável.

 

O Dr Desmurget parece-nos simplificar e apontar uma causa notória, porém sem buscar ou explicar o real motivo desta transformação.

Como eram as provas escolares na época pré-digital? Havia o trauma da caneta de tinta. Por quê? Porque uma vez escrita e resposta à caneta, não se poderia apagar. Então era comum realizar um rascunho a lápis. Esse temor fazia com que o indivíduo se detivesse um pouco mais na elaboração da resposta. Fazia-o pensar. refletir antes de proceder uma ação. 

 

Nos jogos digitais, principalmente os de ação, há o respawn, que é o reaparecimento ou retorno à vida, após a morte. Nem a vida tem um fim absoluto neste cenário. Não há uma consequência para os atos.

 

Vamos exemplificar também através de dois quebra cabeças simples. Como seriam resolvidos por uma geração totalmente digital e outra não. Observe as duas figuras e os problemas propostos:






Provavelmente o método do indivíduo CTRL-Z será tentativa e erro. Lápis, borracha ou cliques em diversos lugares.

 

Já um indivíduo pré-digital ou com as características destes, irá realizar em sua mente um estudo de possibilidades e assim exercitando-a.

 

Qual terá um maior ganho após a brincadeira? Aquele que exercitou a mente ou aquele que exercitou os dedos? Para fins de adquirir a capacidade de resolver problemas, podemos deduzir que foi o primeiro. Mas quem resolveu mais rápido?

 

Por isso podemos teorizar que existe algo de positivo nesta mudança. Não se trata de uma idiotização, apenas adequações ao que mais a humanidade precisaria no seu caminho de evolução.

A empresa de aviação Airbus, cada vez mais transforma suas grandes aeronaves em robôs automatizados, cabendo ao piloto a função de controlador e observador. 

 

Tesla e Google avançam firmemente nos veículos autônomos.

 

Tanto o piloto da aeronave como o passageiro de um veículo autônomo não precisam saber detalhes muito específicos da máquina e software que utilizam. Basta saber usá-los. Não tem de ser criativos. Não há ambiente para isso.

 

Há uma história engraçada - certamente uma piada, mas que aponta o que tratamos aqui.

 

O gigante da alimentação, McDonald's, estaria fazendo uma seleção de novos funcionários e fez uma dinâmica para o grupo todo, umas 100 pessoas.

 

Quem se acha criativo aqui? Levantem-se por favor. Disse o recrutador ao microfone.

70% das pessoas se levantaram. Todos jovens querendo muito aquele emprego e mostrarem-se de forma especial.

 

A seguir o recrutador teria dito:

“Quem está de pé pode retirar-se da sala.”

Todos se entreolharam não acreditando que ao imaginar agradar a empresa e o recrutador, estavam selando o fim de sua trajetória naquela seleção.

Ao ver que seu objetivo havia sido atingido o recrutador voltou a se pronunciar:

“Todos podem sentar. Fiz isso para vocês saberem que aqui na companhia não queremos ninguém inventando novidades ou improvisando qualquer coisa. Queremos que sigam o manual!”

 

Isso tudo pode se tratar de uma readequação de pessoas e funções. A automação e a evolução tecnológica continuará sendo proposta por pessoas com o perfil adequado, criativo e inventivo. Estaremos enfrentando as consequências disso, ou seguiremos um caminho involutivo.

 

Novas habilidades as crianças submetidas às "telas" precocemente, irão desenvolver. Características necessárias no seu futuro cotidiano.

 

Outras consequências, bem vejamos:

 

Poderemos enfrentar, ao sancionar esta realidade, com problemas éticos muito profundos no futuro. Privar populações da tecnologia presente buscando uma melhoria nos coeficientes de inteligência, laboratórios de gênios ou coisas do tipo. Haverá algum governo totalitário para colocar isso em prática, talvez separar cidadãos em grupos para fins específicos, ou uma maluquice destas.

 

Afinal, com o QI baixando… pode-se confirmar, como dito por ninguém menos que A. Einsten, que a estupidez humana não tem limites mesmo. 

 

Oremos.

 




Monday, May 02, 2022

Nunca vi um Ateu na UTI, no leito de morte

“Nunca vi um Ateu na UTI, no leito de morte”.


Esta teria sido uma fala atribuída a um conceituado médico.


A partir desta colocação temos de buscar entender qual a pessoa real. Aquela que emite uma opinião ou um conceito em perfeito domínio de suas faculdades e sem pressões externas sobre si… Ou a pessoa verdadeira é aquela que em momentos de tensão, pressão ou ambiente externo emite sua opinião ou atos?


Será que esta busca de resposta tem a ver com Utilitarismo X Universalismo? Ou Objetivismo E Relativismo?


Quando perguntamos a qualquer pessoa: Você é favorável a tortura? 100% dirão que não!! Que é abominável. Dirão até que a pergunta em si é absurda.


Estas pessoas estão emitindo este conceito dentro de uma situação “segura”. Não há pressões externas. Parece (e é) uma opinião perfeitamente ajustada aos padrões morais ocidentais.


No entanto, vamos propor um exercício hipotético e realizar esta mesma pergunta de outra forma e em outro contexto.


“Seu filho(a) de 5 anos foi sequestrado. O paradeiro é desconhecido. A Polícia está investigando.. já se passaram 3 dias… e ocorre que a Polícia prende um suspeito, que admite - em troca de um benefício qualquer, ter participado do sequestro, mas se recusa a dizer onde é o cativeiro. Uma pessoa que tem acesso ao detido lhe procura e diz:

-- Ele sabe onde seu filho(a) está. Mas não vai falar a menos que tiremos a força esta informação dele. Podemos dar um jeito de descobrir hoje ainda onde ele(a) está e trazê-lo(a) para casa a salvo!  O que você acha? Concorda?”


Veja que trouxemos para o ambiente uma pressão externa e tornamos a causa individual e pessoal.


Já vi opiniões de que “Ah! Não se pode fazer isso! Assim reduzimos a discussão a pessoalidades”.. Mas é justamente esta questão aqui. O que é válido pensar. Quem é a pessoa, qual seu verdadeiro ser? Aquele em ambiente estéril? Ou este, em um caldeirão de emoções?


A mesma situação, essa desconcertante discussão vem à tona quando se enfrenta a questão envolvendo uma pandemia, como a do Coronavírus em 2020. 


Será que defenderemos as mesmas formas de combate e postura em situações diferentes, tais como quem tem um emprego público, ou alguma forma de ganhos assegurados em comparação aqueles indivíduos que precisam de um sustento diário para sua família?


Ou um confronto entre quem teve um familiar acometido da doença e quem não teve?


Para efeitos do que estamos aqui discutindo não vamos entrar no campo de análise de quão certa é a “ciência” de cada lado - de cada ponto de vista, pois há já demonstrado que as medidas mais usuais de combate não surtiram efeito. Além do mais, a seriedade e sobretudo a competência dos entes públicos restaram evidentes como insatisfatórias.


Considerando que no fundo todos nós somos “máquinas de sobrevivência” faz muito sentido que as pressões externas e condicionamentos da realidade moldem (ou remoldem ) o nosso pensar em busca da tão sonhada coerência que a nossa consciência insiste em nos cobrar.


A moral parece se situar no extremo oposto das ações necessárias para a nossa sobrevivência. Leia-se o egoísmo natural do ser. E esse último tende a ser “sepultado” em prol de uma convivência social. Um faz de conta bem ensaiado e há muito arraigado na cultura humana.


O lado utilitarista do universalista existe. Está lá. Reside no fundo da estante, depois do manual dos primeiros socorros, dentro de um vidro de proteção com um machado do lado de fora.... Se ele não precisar chegar a este ponto tudo bem. Mas estará lá para ser usado em caso de necessidade.


Assim é também com o lado religioso do ateu. Esse degrau pode ser atingido. Está lá.


Seria isso hipocrisia? Ou seria simples demais condenar o indivíduo, aprisioná-lo a uma forma de pensar em nome da coerência?





Conflitos Primordias I

D: Como sei que Deus existe?
M: Basta ver a sua obra…
D: Que obra?
M: Tudo que nos cerca..
D: Mas isso não pode ser fruto do acaso?
M: Quando você olha um sapato, você pensa que alguém criou ou foi obra do acaso?
D: Penso que alguém criou. Mas é diferente…
M: Diferente? O que você acha mais complexo, um sapato ou um sapo?
D: Claro que o Sapo!
M: Então, caro D, não existe um resultado ou efeito inteligente sem uma causa inteligente, compreende?
D: Sim M, mas a natureza me parece imperfeita…
M: Imperfeita como?
D: Nas formas, por exemplo. Uma montanha não parece ser uma criação mais inteligente que um edifício.. Se eu pegar agora um pedaço de argila faço em questão de minutos uma forma mais coerente com algum objeto do que se encontraria por aí na natureza… Por quê não se encontra estas formas na natureza?
É fácil perceber quando algo foi feito pelo homem.
M: Instigante sua pergunta D, o Homem se esforça para entender como as coisas funcionam na natureza… na matemática, física, biologia e mesmo sobre aquilo que nem sequer compreende julga uma “construção” inferior, despojada de “princípios”, de vontade. Aquilo que não compreende, não explica, julga fruto ou obra do acaso.
D: Mas o Homem tem explicado muita coisa… inclusive coisas ditas no passado serem de deuses.. esses “mistérios” do mundo..
M: Quem atribuiu isso a deuses?
D: Os homens…
M: Então esse mesmo homem mudou de opinião.. seria uma má compreensão sua no passado? O que você acredita?
D: Sim M. Provável. Porque o homem descobriu como funcionam certas coisas na natureza.
M: Se eu lhe apresentasse uma locomotiva, você saberia me dizer em detalhes como funciona?
D: Não. Não saberia, mas… --- M Interrompe.
M: Mas … se estudar bastante, ler a respeito, praticar, compreenderá, não?
D: Sim, certamente.
M: E você, após obter este conhecimento, não concluirá que a locomotiva é “auto-criada”, não é? Talvez até passe a admirar mais o engenheiro que a criou.. Ou seja, o fato permanece o mesmo, você ( o homem ) compreendendo ou não como certa coisa funciona, ou tendo ou não mudado sua opinião a respeito…
D: Neste caso eu não pensaria que foi autocriada pois sabemos que foi feita de engenho humano, uma invenção. Isso não ocorre naturalmente, como o caso do Edifício que lhe falei antes. A locomotiva trata-se de uma ferramenta de locomoção.. Só a inteligência pode criar uma ferramenta como essa..
M: O que me diz do pássaro que constrói o ninho.. da aranha que tece a teia, do castor que constrói uma barragem em um rio.. De onde provém o intelecto nestes casos.. já que tratam-se também de engenhos?
D: Poderíamos dizer que é nato.. de todos os seres vivos essa característica… como uma propriedade destes seres..
M: Então há inteligência na natureza.. mas esta inteligência, também seria fruto do acaso, ou seja, a fonte, a ferramenta principal, a causa por trás do engenho - o ato inteligente - a própria ferramenta não seria fruto de uma criação inteligente? Quando olhamos um martelo, ele tem um propósito, uma furadeira elétrica, uma chave… quem criou?
D: O Homem para usar em suas criações…
M: Então são ferramentas. Que só existem porque foram criadas. E o que o homem usou para criá-las foi a sua inteligência, ou seja, sua ferramenta. Que por sua vez está no fruto de sua gênese, uma propriedade do Ser, e como uma ferramenta, podemos concluir que origem de uma criação.


Wednesday, August 25, 2021

Quando o homem começou a contar?

Será que foi contando carneirinhos?

Digamos que se o pastor tivesse dez ovelhas.. poderia conhecê-las pelo nome... 150 é um bom número também... 150 é aproximadamente o número que alguns estudos da mente sugerem que podemos lembrar de indivíduos e nomes... o grupo de "conhecidos"..

Além disso, além destas quantidades, como o pastor saberia que o lobo foi lá e cráu??

Só contando para saber... ou caso o Lobo tenha subtraído um indivíduo muito singular, que a simples ausência se faça notar imediatamente.

Ou talvez tenha sido quando o homem começou a comerciar... passou a trocar itens com seus vizinhos ou viajantes. Poderia ter sido da necessidade de estabelecer valor de troca.. exemplo, um boi por 3 ovelhas..

Poderia ter sido também a necessidade de contar as luas para o colheita de alguma cultura..

E será que ele se deu conta, de que começou a contar?

Não existe abstração maior na matemática que a sua base... o número. Não confundir abstração com complexidade. O conceito de número é simples.. mas a abstração é máxima. Tão grande que nem se percebe como tal.

Talvez não se tenha como estabelecer isso... no entanto podemos imaginar melhor quando ele parou de contar. Quando olhou para o céu, numa noite estrelada, sem luar.




O que existe além do Universo?

Atualmente as certezas sobre o universo estão colapsando... para usar uma expressão muito comum no meio da astrofísica e astronomia.

A medida que os telescópios alcançam mais longe, mais duvidas surgem.

Algumas das questões mais efervescentes são o tamanho do Universo, sua expansão e se é finito ou não.

Bem... se algo se expande, ele está finito.. Do contrário não teria por que e nem para onde se estender..

Então, aí que entra nossa pergunta? O que existe além do Universo?

Podem existir outros universos.. pode existir um vazio enorme... Não pode ser nada, pois do "nada" não se faz nada, não se subtrai.

Mas podemos dizer que existe algo fora do Universo. Com certeza absoluta.

Podemos dizer que algo resistirá até mesmo ao final deste universo. Não pode ser extinto. Algo que existe em todos os quadrantes, em todas as galáxias ...

Sem mais mistérios. O que existe aqui, ou em qualquer outro lugar são os NÚMEROS. 

Mesmo que nada exista, os números existem. "Nada", é um conceito numérico.

Existindo o conceito numérico, a matemática como um todo existe. Talvez sem aplicação prática nenhuma, mas isso não exclui a sua existência.

Nenhuma outra abstração que conhecemos podemos afirmar que existe independente do universo que conhecemos. Nenhuma.

Nenhum sentimento. Nenhuma arte. Nenhuma vertente científica.. nem mesmo a Física, nem mesmo a Filosofia. Tudo pode ser diferente em outro Universo.. exceto, os números e a matemática.

Por quê?





Monday, July 15, 2019

Demente

Incansável mente. Verte vertigem.
Sempre mente. Seguidamente.
Segue mente, cegamente.
Vã, volúvel mente.
Poê-se, turbulenta mente.
Reflete ausente, viaja lenta pela enorme galáxia. Vagamente.
Mistério inconsciente. Não há lente que aumente.
No próprio ventre, as dúvidas mais frequentes.
Esquece lentamente.
Segue a procura do que vieste buscar.
Incansavelmente.
Sonda. Ronda. Dentro do círculo. Não sai pela tangente. Mente, verdadeira mente.
O Amanhã, virá finalmente.
Poê-se a pensar. És o todo ou parte somente?
Pergunta!
Não sabes a resposta?
Nem eu. Infelizmente.

Thursday, November 20, 2014

O Tapete voador e o limite da engenhosidade

O Tapete voador e o limite da engenhosidade

De tempos em tempos ocorrem circunstâncias que nos fazem pensar sobre os limites da engenhosidade humana e o que construímos sobre uma nova tecnologia descoberta.
Qualquer fato cotidiano pode desencadear os questionamentos que podem levar ao cabo o desenvolvimento de uma nova tecnologia.
Onde estou digitando este texto é um notável exemplo. Estou digitando em um computador. Mas antes dele utilizávamos a Máquina de Escrever Mecânica. A “Máquina de Escrever Mecânica” surgiu como uma evolução – termo característico para designar um aumento de engenhosidade – da tipografia tradicional. Através de uma serie infindável de mecanismos, hastes, rebites e todo o tipo de conexões físicas e mecânicas. Tudo encaixado de forma a fazer movimentos pré-determinados e precisos. Ao abrir um equipamento destes, que ainda se encontra (Sec XXI) em algum museu, pode-se ver claramente a “engenhosidade” no seu estado mais puro.
A Máquina de escrever eletrônica ainda surgiu como um último manifesto de uma tecnologia ultrapassada. Foi o ápice do fim, se é que se pode dizer assim.
Um dia, alguém, sem cometer injustiças, mas creio um dos sócios da Atari, uma das primeiras produtoras de games da década de 1960, pressionou uma tecla em um rústico teclado e a imagem correspondente foi mostrada em uma tela de TV. Bingo! Uma nova tecnologia surgia e viria a varrer do mapa as agora antigas e obsoletas máquinas.
Assim é também com a indústria da aviação. Primeiro aviões com hélices, com limitações de toda a espécie. Teto de voo, alcance, velocidade. Depois com o uso das turbinas, agregado tecnológico novo, barreiras foram rompidas. Mas no conjunto, o que impera ainda é a engenhosidade.
Da primeira tentativa de alçar voo e a descoberta que a diferença de pressão faz o avião se sustentar no ar – que foi o salto tecnológico inicial – até a consolidação da aviação civil, o que se sucedeu mais um arranjo de tecnologia e muita engenhosidade.
Mas será que sabemos identificar o momento em que só mais engenhosidade não resolve¿
Um exemplo de detecção de um ponto no qual a engenhosidade chegou ao seu limite parece ser a indústria espacial. Esta indústria tem buscado alternativas ao uso de foguetes impulsionados por combustão para conseguir vencer as barreiras e forças de atração da terra.
O desenvolvimento de tecnologia e acréscimo de engenhosidade na produção dos foguetes foi enorme, mas a conclusão de que “outra” tecnologia é necessária para este fim foi inevitável.
Mas qual tecnologia¿ Não surgiu ainda. O que vemos é o vazio que a falta de um salto tecnológico é capaz de produzir.
Reconhecesse aqui o limite da engenhosidade.
Antes de surgir a fita magnética para gravação a indústria se baseava nos discos de vinil. Ao mesmo tempo a indústria automobilística também de desenvolvia de forma avassaladora. Houve modelos de automóvel equipados com leitores (tocadores) de discos de vinil. Mesmo toda a engenhosidade humana não foi suficiente para fazer este conjunto funcionar corretamente.
Mas com o surgimento de “outra” tecnologia, o problema foi solucionado.
Sempre a ordem segue a mesma: Necessidade. Tecnologia. Engenhosidade. Nova Tecnologia. Engenhosidade. E assim por diante.
Temos vários campos onde mesmo tendo aplicado toda a engenhosidade humana, não conseguimos satisfazer adequadamente a necessidade com a tecnologia atual.
Um deles, falamos agora pouco: A aviação Comercial.
Entrar em um cilindro de metal, com um milhão de rebites, acelerar loucamente em uma pista de rolamento, até causar uma diferença de pressão o suficiente para sermos sugados para cima, propulsados por motores a jato, consumindo milhares de litros de combustível fóssil em uma explosão controlada. Sem um plano B eficiente... Não parece insano¿
A engenhosidade tratou de criar uma malha de protocolos e códigos técnicos a fim de garantir que este arranjo funcione em conjunto. Mas eles são também uma espécie de remédio ou de alucinógeno que faz com que nós humanos da primeira metade do Século XXI, achemos seguro nos deslocar assim.
É muito compreensível que nem notemos estas questões e mesmo não se aceite com facilidade, pois – é o temos. Ou usamos estes meios, ou regredimos. E sabemos que o homem sempre vai em frente. Sempre.
Podemos comprovar isso olhando 400 anos atrás, séculos XVI - XVII e vamos ver as viagens entre o velho continente e o novo, realizadas em embarcações à vela, de madeira, em uma época que não existia refrigeração, comunicação por rádio, GPS, antibióticos, nada. As pessoas simplesmente embarcavam com destino ao Novo Mundo, em viagens que poderiam demorar meses, ou mesmo não chegar. Algumas chegavam até com metade dos passageiros.
Hoje ao analisarmos estas circunstâncias não podemos ter outra reação que não o espanto completo. Porém não havia outra forma. A situação exigia uma solução. A decisão era ir desta forma, ou não ir de jeito nenhum.
Possivelmente, a reação que temos hoje, será a mesma que as pessoas em um futuro de poucos séculos poderão sentir em relação ao que - e como - fazemos hoje.
Podemos imaginar um habitante humano deste planeta de um futuro próximo se perguntando como nos séculos XX e XXI e antes, claro, as pessoas morriam porque o coração parava de bater.
Dito assim parece muito estranho. Mas analisemos um pouco esta questão.
Quando o coração para de bater no seu ritmo normal temos o conhecido Ataque Cardíaco. Se a pessoa não for reanimada em um período de poucos minutos é decretada a morte.
Qual a causa da morte: Parada Cardíaca¿
Sim e não. A verdadeira e derradeira causa da morte será por insuficiência de irrigação do cérebro por um período suficientemente grande para que este não possa ser “religado”.
Enquanto o cérebro não morrer, há vida. Enquanto as células cerebrais estiverem vivas todas as funções poderão ser retomadas.
Em uma cirurgia cardíaca é utilizado um maquinário para manter a circulação sanguínea que simula um coração.
Mas existem cirurgias cardíacas que podem ser realizadas sem a utilização de um coração artificial, ou sem um maquinário que simule as funções do órgão.
Nestas cirurgias são utilizadas técnicas de resfriamento, que permitem que o cérebro possa ficar um longo tempo sem oxigênio, e que as células permaneçam vivas.
Já vimos e ouvimos diversos acidentes em lagos congelados, onde a vítima se afoga e somente é resgatada muitos minutos depois, 10, 20 ou 30 minutos sem respirar. Consequentemente sem enviar o precioso oxigênio para as células cerebrais. E mesmo assim, depois de resgatados estes indivíduos recuperam a consciência e seguem uma vida normal.
A chave é manter as células – o cérebro – vivo ou em condições de ser “religado”.
A cidade de Filadélfia nos USA detém os melhores índices mundiais de salvamento de pessoas diante de um ataque cardíaco. O motivo é a rede de ambulâncias e posições de socorro que tem o objetivo e a meta de em 5 minutos levar o desfibrilador até a vítima, seja qual for o ponto da cidade em que for a ocorrência.

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Tuesday, May 17, 2011

Ensaio sobre Convicções



Ensaio sobre Convicções

 

D​icionário Priberam define assim:

convicção

s. f.

1. Certeza dum facto de que apenas temos provas morais.

2. Jur.  Prova evidente.

3. Reconhecimento do próprio crime.


convicções

s. f. pl.

4. Crenças; opinião arraigada.


Para vivermos em paz precisamos de convicções. Elas acalmam nossa mente, protegem-nos e nos tranquilizam.

Toda convicção é perigosa.

A Convicção é como uma célula, que possui uma membrana impermeável ao seu redor. Esta membrana só aceita a entrada de nutrientes que fortaleçam esta célula. Por isso uma Convicção não pode ser alterada. Ela só pode ser destruída. Morrer ou tomar conta do indivíduo. Um cancer.

A Convicção é prima-irmã da Certeza. Na família, num ramo próximo, estão a Incompreensão e a Intolerância, primas em segundo grau das primeiras.

Por detrás de todas as grandes tragédias da Humanidade há o princípio da Certeza e da Convicção. Guerras principalmente.

Incompreensão e Intolerância são mais facilmente percebidas como nocivas. Mas a raiz que as produz é a mesma das Convicções.

Ainda o Priberam:

certeza (ê)
(certo + -eza)

s. f.

1. Qualidade do que é certo.incerteza

2. Coisa certa.

3. Adesão absoluta e voluntária do espírito a um facto, a uma opinião.

4. Ausência de dúvida. = convicção

 

Como uma Convicção se estabelece?

As convicções se estabelecem à medida que o indivíduo soma suas experiências. Só que paradoxalmente, quanto menos experiência e conhecimento um indivíduo adquire, maiores as suas convicções e certezas.

A medida que o Conhecimento e as expriências são adquiridos pode acontecer 1 de 2 situações: A morte de algumas convicções - que é um processo muito doloroso - e / ou o fortalecimento de outras. Cada novo conhecimento ou experiência produz este efeito. A escala depende do quão forte foi a experiência e  quão denso e novo, o conhecimento.

Ainda no modelo celular, grupos de convicções se atraem como se houvesse uma química que as mantém unidas e próximas. Sendo que uma "transfere" nutrientes a outra quando esta se sente ameaçada.

Quanto mais "antiga" a Convicção, mais "protegida" ela está de ameaças novas. Mais forte ela é. Pois ao seu redor, outras certezas vieram se aliar.

Próximas abordagens sobre Convicções: 

Como elas (convicções) agem ou interferem no nosso livre pensar?

Por quê as pessoas gostam de expor suas convicções?

Ficamos reféns de nossas convicções?

Como se destrói uma convicção?

Sócrates e seu Método - O destruidor de Convicções.

As religiões e as certezas

Os processos Iniciáticos

Convicções e Costumes

Precisamos de Convicções?

Existe outra maneira possível, outro pensar?