Monday, May 02, 2022

Nunca vi um Ateu na UTI, no leito de morte

“Nunca vi um Ateu na UTI, no leito de morte”.


Esta teria sido uma fala atribuída a um conceituado médico.


A partir desta colocação temos de buscar entender qual a pessoa real. Aquela que emite uma opinião ou um conceito em perfeito domínio de suas faculdades e sem pressões externas sobre si… Ou a pessoa verdadeira é aquela que em momentos de tensão, pressão ou ambiente externo emite sua opinião ou atos?


Será que esta busca de resposta tem a ver com Utilitarismo X Universalismo? Ou Objetivismo E Relativismo?


Quando perguntamos a qualquer pessoa: Você é favorável a tortura? 100% dirão que não!! Que é abominável. Dirão até que a pergunta em si é absurda.


Estas pessoas estão emitindo este conceito dentro de uma situação “segura”. Não há pressões externas. Parece (e é) uma opinião perfeitamente ajustada aos padrões morais ocidentais.


No entanto, vamos propor um exercício hipotético e realizar esta mesma pergunta de outra forma e em outro contexto.


“Seu filho(a) de 5 anos foi sequestrado. O paradeiro é desconhecido. A Polícia está investigando.. já se passaram 3 dias… e ocorre que a Polícia prende um suspeito, que admite - em troca de um benefício qualquer, ter participado do sequestro, mas se recusa a dizer onde é o cativeiro. Uma pessoa que tem acesso ao detido lhe procura e diz:

-- Ele sabe onde seu filho(a) está. Mas não vai falar a menos que tiremos a força esta informação dele. Podemos dar um jeito de descobrir hoje ainda onde ele(a) está e trazê-lo(a) para casa a salvo!  O que você acha? Concorda?”


Veja que trouxemos para o ambiente uma pressão externa e tornamos a causa individual e pessoal.


Já vi opiniões de que “Ah! Não se pode fazer isso! Assim reduzimos a discussão a pessoalidades”.. Mas é justamente esta questão aqui. O que é válido pensar. Quem é a pessoa, qual seu verdadeiro ser? Aquele em ambiente estéril? Ou este, em um caldeirão de emoções?


A mesma situação, essa desconcertante discussão vem à tona quando se enfrenta a questão envolvendo uma pandemia, como a do Coronavírus em 2020. 


Será que defenderemos as mesmas formas de combate e postura em situações diferentes, tais como quem tem um emprego público, ou alguma forma de ganhos assegurados em comparação aqueles indivíduos que precisam de um sustento diário para sua família?


Ou um confronto entre quem teve um familiar acometido da doença e quem não teve?


Para efeitos do que estamos aqui discutindo não vamos entrar no campo de análise de quão certa é a “ciência” de cada lado - de cada ponto de vista, pois há já demonstrado que as medidas mais usuais de combate não surtiram efeito. Além do mais, a seriedade e sobretudo a competência dos entes públicos restaram evidentes como insatisfatórias.


Considerando que no fundo todos nós somos “máquinas de sobrevivência” faz muito sentido que as pressões externas e condicionamentos da realidade moldem (ou remoldem ) o nosso pensar em busca da tão sonhada coerência que a nossa consciência insiste em nos cobrar.


A moral parece se situar no extremo oposto das ações necessárias para a nossa sobrevivência. Leia-se o egoísmo natural do ser. E esse último tende a ser “sepultado” em prol de uma convivência social. Um faz de conta bem ensaiado e há muito arraigado na cultura humana.


O lado utilitarista do universalista existe. Está lá. Reside no fundo da estante, depois do manual dos primeiros socorros, dentro de um vidro de proteção com um machado do lado de fora.... Se ele não precisar chegar a este ponto tudo bem. Mas estará lá para ser usado em caso de necessidade.


Assim é também com o lado religioso do ateu. Esse degrau pode ser atingido. Está lá.


Seria isso hipocrisia? Ou seria simples demais condenar o indivíduo, aprisioná-lo a uma forma de pensar em nome da coerência?